Página em branco com pensamentos, poesias, fotografias, filmes, músicas, pinturas.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Vênus em Câncer


Domicialido em nossas palavras
Há o silêncio que faz
Dançar as distâncias
Juntar nossas errâncias.
Dia desses pegando o coletivo
Para o lugar que partirei
Sonhei com tua casa.
Lá estava o sol em Peixes
Iluminando o soterrado que
Respira terra e mar, protegido.
Só as mãos para fora.
Em silêncio contando
Com minha distração solar.
Tu sabes que podes, sempre podes
Me fisgar em silêncio.

(Scheilla Franca)

Partir partir


Parta e vá te
Parir Parta
parta não Importa 
que parte sua
se vai parar
No parto
vai borrar
o nome e o corpo e
se o coração parar
Parta
Parta
Parta
Sem ponto
No mais puro imperativo soteropolitano
Dois pontos
Cresça crie forças nas pernas
E vai se parir por aí, por aí
Mesmo sem esperança
Mesmo sem esperança
Faça força e vá se partir por aí
(Illa Franca)

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Retorno de Saturno

Dedicado à Raquel Rocha

Em poucas linhas
me indefino hoje. Elas
Estão sob meus olhos,
Prateando meus cabelos,

Ao redor da minha boca,
Nas palmas das mãos,
No colo, me aninhando,
São escudo e proteção.

Saturno me ensina
Que o hoje foi escrito
Com essas linhas do coração,

e eu parei, calei pra ouvir.
Por essas linhas
Vale a pena, parar e seguir.

O futuro eu vejo com a cicatriz de catapora que marca meu terceiro olho.
(Scheilla Franca)

Mal de Lua



Querer saber o por quê
Por que o por que quer saber
do que devia bastar 
No que já é, se é que é, ou será?
Mas com o olhar, o sorriso e o arrepio
Já corre juntinho o pensamento
A indagar, perguntar, inquirir

Se é, por que será, não é?

É mal de lua
É bem da lua em Gêmeos.
Nao se contenta em sentir
Tem que buscar, cutucar,
Entender, racionalizar e confundir
Correr de um lado a outro
até o dedo mindinho, sem descansar

O que é, se é, o que será, não é?

Não bastasse passar o dia
A me despetalar em poesia
malmequer, bem-me-quer,
Mal de lua cheia de interrogação
Pra lidar com esse seu teretetê
Tem que tentar entender o por quê
Quando devia bastar o sabe-se la o quê.

Porque o que é, se é que é, um dia será.
Não é?

(Scheilla Franca)

Chama


Tem chama que faz brotar vendaval
Num sorriso. E eu, indeciso, não sei se fico ou se saio
No meio desse temporal astral carnal ilegal

Tem gente que é chama, tem
Tem gente que chama e não vem
Sair é correr o risco de ser pego por um corisco

Aquele trovão arisco que vem
Com o vendaval, chama de temporal,
E me risca os céus e divide o pensamento

Astral carnal ilegal
que brota dum sorriso que é chama
que chama e eu não sei se vou ou se fico.

(Scheilla Franca)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Eu


Estava
Em um hotel antigo
Em feitio de coliseu

Era noite e
Eu vestia minha pele
E com minha pele apenas

Enfim descobri como
Era estar em paz
E em mim

Essa coisa de pele
Essencial
É

(Scheilla Franca)

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Poema sobre sonho


é três de agosto do outro lado
da margem te vejo abraçado à
barriga que vai te parir.e eu

na margem daqui no mesmo três
baixo a vista e dou de cara
na flor d'água da margem de mim

com a máscara elástica que me estica
as papadas as orelhas o nariz e me
abraço à máscara à margem à água

que me permite
partir no tempo
três nós

(Scheilla Franca)

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Lembranças (de Pai Joaquim da Cachoeira)


Eu sou forte
Eu sou filho de Oxalá
Zambi é meu guia
Eu não vou fraquejar

A poesia vem que vem
Vem que tem que vim
Vem do tempo do tronco
Em que apanhava e pensava assim

Eu sou forte
Eu sou filho de Oxalá
Zambi é meu guia
Eu não vou fraquejar

Nego velho não escrivinha
Nego velho não sabe escrivinhá
Nego velho veio plantar roseira
Pra esperar o Sol chegar

Filhas, não queiram ser pau ferro, queiram não
Sejam como o bambu que beija o chão
Tenha fé no teu caminhar, faça sua parte
Do outro lado sempre há quem vai ajudar

Nego velho não escrivinha
Nego velho não sabe escrivinhar
Nego velho sabe trabalhar
Com as bençãos de Oxalá

Eu já vou, já vou
Eu já vou pra lá
O meu Pai me chama
Eu não posso demorar

(Pai Joaquim da Cachoeira e Scheilla Franca)

terça-feira, 6 de junho de 2017

9 de copas



Ao te ver me ver
No Tempo de relógio algum
Fico.

Fico encruzilhada nesse encontro
De seu Mar revolto
Com minhas águas Espelhadas

Descendo as escadas de Antônio,
senhor dos Caminhos, Carmo, Carma
Encruzilhada

Sigo.

Scheilla Franca

domingo, 7 de maio de 2017

Mar de Janeiro




As coisas tão nossas
Hão de se tornar nossas
No Tempo de um deus

As coisas tão nossas
Não as posso doar
Nem eu...

Ao mar, ao mar
Em desencanto, em agonia
Pra te abandonar eu vou ao mar
Com nossas caixas vazias.

E em segundos me vejo naufragar
Confundi nossos vazios e
Não fosse você saber nadar
Eu estaria ao fundo, bem fundo, ao mar...

A cantar, sozinha, a cantar
As nossas coisas tão nossas
Que hão de se tornar nossas
No Tempo de um deus

As coisas tão nossas
Não as posso doar
Nem ao mar...
Nem eu.

(Scheilla Franca)