Página em branco com pensamentos, poesias, fotografias, filmes, músicas, pinturas.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Reveillon


Então, tomou de minhas mãos a caneta
Parada. 
Com o cigarro na boca
E os olhos sobre o mar. 

Puxou meu braço esquerdo
Com força e sem razão.
E me cobriu com as palavras, pouco usadas:
Faça-me ou nada serei.

Por uns segundos ou mais
Fiquei pensando o quão inquisidor pode ser um poema.
Olhos sobre o mar, alma nas palavras,
Mãos sobre a página, calada.

O que o poema disse 
era ao que eu estava fadada.
A página em branco não tem linha
de Horizonte, nem céu, nem nada.

Que tal algumas ondas?
Nadar. Isso. Nadar.

(Scheilla Franca)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Aviso aos navegantes


Só tem uma coisa mais
perigosa que sonhar.
Acorde e verá.

(Scheilla Franca)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Um fantasma


Me sinto viva
nos museus, até o coração
Lança vida

Sobre meus olhos
Pelos meus braços
Os meus pés

Eles caminham
Tropeçando.
Eu ouço todos vocês,
Mas o que eu digo?

Sou um fantasma
Entre vivos
Sou viva
Entre livros.

(Scheilla Franca)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O gato


Como é belo o quadro diante de mim!
Crianças de mãos dadas
Aos pais que sabem
criar laços

de todas as cores.
Azuis são as fitas no cabelo
das meninas que voltam do
colégio.

Como é belo o gato diante de mim!
E eu sentada à beira do banco
Como apenas quisesse
Viver um pouco da cor

De um quadro que não é meu.
O gato me olha de frente
com silêncio
E respostas que sei de cor.

O gato é cinza.
E também não é de lá.

(Scheilla Franca)

domingo, 1 de julho de 2012

Medianeiras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (2011)



Um filme recém assistido... sobre um sentimento antigo: a solidão.
Recomendo muito. Não tem como não se identificar com Martín e Mariana e seus modos estranhos (e cada vez mais comuns) de viver.

Fica a dica.


Primeiro de julho


Se não me falha a memória
Eu morri três vezes
Só este ano.

E é metade do ano.
Sou inteira porque não posso ser metade.
Quantas vezes ainda morrerei?


Deixo de fingir: sou metade, sim.
Não por vontade
Mas por não ter força de nascer.

Um roseira de galhos frondosos
Nasceu sobre meu túmulo
Em uma de minhas mortes

Se não me falha a memória
Era vermelha e forte
E ressaltava ainda mais a palidez 

de minha segunda sorte.

(Scheilla Franca)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Certidão de óbito


Tem dias que
Nem mesmo o silêncio 
responde
ao telefone que toca.
Nada mais 
do que o reflexo
da respiração
que quase não
insiste em
existir.

Só resta registrar
o silêncio e a respiração
que não vivem mais.
E só.

(Scheilla Franca)

sábado, 23 de junho de 2012

Três poemas


Não posso reclamar da solidão
Aliás, eu posso. Mas não devo.
Porque devo a ela uns três poemas 
que eu não entendo o que querem dizer.

Compartilho um segredo
Diante do que eu desconheço, me sinto
escoltada pela mais profunda sensação de alegria.
Sem maiores explicações

Eu me deixo
Não entender nada
E ser feliz assim mesmo.
Eu e meus três poemas que não se calam.

(Scheilla Franca)


domingo, 8 de abril de 2012

Ofício



Como seria
Fazer nascer
Em cada dia
A fantasia do ser...

Eu trocaria
cada palavra
Escolheria
Desenhar a luz

Que traria
Poesia ao
seu dia.
E emudeceria.

(Scheilla Franca)