Versos roubados

*Para meu amigo querido Vitor Torres

Ele chega na quinta quando o dia acabar.
Sabe aqueles cinco minutos
Entre abrir os olhos e levantar?
Viva neles durante o dia todo.
Até a noite chegar e não for mais hora.
Na dúvida, fiz café.
Deixa chover suco de melão.
Que ele chega depois d’amanhã
Às 19 horas de um dia sem tempo ruim.
Apenas aqueles cinco minutos
Entre você e o chão frio.

(Scheilla Franca)

Teoria

Eu conheci uma menina
Que queria ter o cabelo azul.
Ela passava o dia todo com a janela aberta
Olhando o céu azul.

Essa menina conheceu um menino
Pela janela que estava sempre aberta.
Enquanto ela olhava o céu azul
Ele passou num balão colorido.

Parou porque tinha tédio
Daquele grande e interminável céu azul.
Ele sentou na janela que estava sempre aberta.
Do lado de fora.

Ele era de fora.
Ela era de dentro.
Ela é da teoria.
É o que ela falava que ele dizia.

Ela é da teoria
Que da janela se via e vivia.
Ele dizia:
Baby, isso é teoria.

Ele dizia que não tinha teoria no seu balão.
Mas todo dia ele coloria o céu.
Porque sabia que a janela estava sempre aberta.
Baby, isso é teoria.

Ela dizia e ele enchia seu balão
colorido de ar e teoria.
E voltava porque na prática
É o que se faz quando você pensa em alguém e o ar acaba.

Um dia ele chegou e a janela estava fechada.
Ele criou uma teoria porque não sabia:
Toda vez que ele coloria o céu azul
Ela respirava fundo e se enchia

De ar e um dia saiu voando
Flutuando, levitando, leve.
Isso não é possível, eu pensei.
Na teoria.

Até que esses dias olhei pro céu azul.

(Scheilla Franca)

Sincronia

Cinco minutos depois
Fez-se o som.
Já havia se desfeito.
Ninguém viu quando
se entornou em cacos.

Nem o garçom. Nem
o chão. Nem o
gari que achou que era
um copo de massa de
tomate que passou
da validade.

Hugo, por que não foi você que passou naquela porta?

Sincronia na vida só
de sinal de trânsito.
O resto é acidente.
E confusão.
E multidão.
E desencontro.
Ponteiros em desalinho e
letra de samba-canção ou
bula de remédio.

Bom mesmo é saber
dançar musicas sem refrão.

Num passo de dança
num passe de mágica
Dois é um.
E por um
instante está salvo
o dia.
a sincronia.
a poesia. a poesia não.
que a poesia tb é acidente.

Scheilla Franca.

Outono

É preciso estar preparado
pra cair

De amores. Todos caem.
O que importa
é não cair de mau jeito.

Se na queda se bate
a perna ao invés do peito
Corre-se o risco
de não mais andar por si

até a próxima década.
até a próxima queda.
até a próxima.

Até que não se possa evitar
E voem braços pelo ar.
E voem poemas pelo ar.
E voem.

E adeus, caminhar.

Até a próxima chance
Até o próximo lance.
Até o próximo

Andar. A vida é só caminhar e tombar.
Cair é do domínio
da Arte.

Scheilla Franca.

Fundamental

Polida
Dura
Às vezes, lascada.
Em constante lapidação.
Acho que não sou
mais que uma pedra
Preciosa.

(Scheilla Franca)